O livro - A escola mudou. Que mude a formação de
professores! – trata-se de uma obra concisa, com apenas 138 páginas que se
subdivide em cinco capítulos e/ou artigos sobre autoria de seis autoras. A
referida obra encontra-se na sua 3ª edição pela Papirus, Campinas – São Paulo,
esta faz parte da coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico, que
engloba diferentes ângulos da problemática educacional.
A respectiva produção foi
organizada por Ilma Passos Alencastro Veiga, a qual possui Bacharelado e
Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de
Goiás (1961), Licenciatura em Educação Física pela Escola Superior de Educação
Física de Goiás (1967), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa
Maria (1973), doutorado e pós-doutorado em Educação pela Universidade Estadual
de Campinas (1988). É professora Titular Emérita e pesquisadora associada sênior
da Universidade de Brasília. É professora do Centro Universitário de Brasília
onde coordena a Assessoria Pedagógica da Diretoria Acadêmica. Tem experiência
na área de Educação, atuando principalmente nos seguintes campos: formação de
professor, didática, educação superior, docência universitária e projeto
político-pedagógico. Orientadora de dissertações, teses e supervisora de
atividades de pós-doutoramento. Atualmente, é membro da Comissão de Supervisão
Pedagógica dos Cursos de Formação de Professores na área de Pedagogia da
Secretaria de Educação Superior, do Ministério de Educação. A outra
organizadora é Edileuza Fernandes da Silva, graduada em Pedagogia pela
Universidade Católica de Brasília, especialista em formação de professores para
a Educação Básica pela Universidade de Brasília, mestre e doutora em educação
pela UnB. Professora da Secretaria do Estado do Distrito Federal há 23 anos,
coordenadora da implantação do ensino fundamental de nove anos no Distrito
Federal entre 2006 a 2007. Foi professora colaboradora no curso de Pedagogia
para professores em exercício no início de Escolarização, além disso, foi
docente do curso Professor Nota 10 e no curso de especialização em Docência
Universitária no Centro de Universitário de Brasília. Atua como pesquisadora da
área de desenvolvimento profissional docente da Faculdade de Educação da UnB.
Conforme já descrito, a
referida produção se subdivide em cinco capítulos e/ou artigos, quais sejam: a formação de professores: um campo de
possibilidades inovadoras de autoria de Ilma Alencastro Veiga e Cleide
Maria Quevedo Quixadá Viana; um
currículo para a formação de professores de Lívia F. F. Borges; as práticas pedagógicas de professores para
a educação básica: entre a imitação e a criação sob autoria de Edileuza Fernandes
da Silva; educação continuada de
professores no espaço-tempo da coordenação pedagógica: avanços e tensões,
produzido por Rosana César de Arruda Fernandes; educação continuada: uma experiência vivenciada nos anos iniciais do
ensino fundamental de nove anos de Maria Antônia Honório Tolentino. As
reflexões que seguem, portanto, são resultados parciais de pesquisas stricto
sensu produzidas com base na experiência formativa e vivências pedagógicas das
respectivas autoras.
O primeiro capítulo tem como
fio condutor das discussões, dois questionamentos que irão permear por todos os
argumentos contidos na referida obra: a formação de professores está voltada
para qual contexto social e para qual escola básica? Nesse contexto, as autoras
tecem reflexão para enfatizar que com um histórico técnico-instrutivo
decorrente do contexto social em que a maioria dos professores foi formada será
simples substituí-los por máquinas, no entanto, se desconstruirmos alguns
valores patriarcais que foram arraigados em nós, será possível percebermos que
há singularidades no educador que são insubstituíveis, que aprender-ensinar é
uma atitude impregnada de sensibilidades que precisam ser consideradas no
contexto da educação formal. Para tanto, enfatizam a importância de perceber que
a formação humana precisa ser compreendida em sua essência, desde seu sentido
etimológico ao seu poder de exalar a compreensão de que a
relação entre o pensamento e a ação depende da finalidade a que o ser humano se
propõe. E que, portanto, por mais que haja distinção entre o real e o ideal, é
necessário entendermos que a formação de professores exige um compromisso de
aliança entre esses extremos e que a articulação entre os interesses
individuais e coletivos precisam ser compreendidos dentro dessa esfera de
formação. Salientam ainda que, a
formação para o desenvolvimento humano do professor é ação vital para a
melhoria da escola, destacando a imprescindibilidade do educador no cenário
desafiador da sociedade contemporânea e apresentando as características que
este deve ter como agente social, bem como a necessidade de conhecimento das
políticas educacionais e do contexto social, cultural e tecnológico ao qual
estamos envoltos.
O segundo capítulo aborda um
currículo para a formação de professores e apresenta a escola como espaço da
educação formal e institucionalizada, destacando as profundas modificações
demandadas pela sociedade atual, bem como o papel do educador neste contexto
de mudança. Para tanto, a autora traz as percepções de alguns teóricos que
apresentam a lógica do currículo tradicional e a implicação para a criação de
outro currículo, formativo. A autora
destaca que a formação do educador por meio da pesquisa pode ser o diferencial
na formação de um pesquisador inquieto sempre a busca de novos conhecimentos,
tal qual exige a sociedade contemporânea. Nessa perspectiva, destaca ainda que
as políticas públicas educacionais devam centrar forças na construção de um
currículo para a formação de professores que tenham como ponto de partida o
protagonismo docente-discente, explicita que para a construção desse currículo
integrado, é necessária uma sólida formação teórica cultural que remete a três
dimensões: reconhecimento de um escopo teórico e de um cabedal cultural que
demarca a especificidade da docência como profissão; construção cultural desse
repertório sujeito às relações de produção do conhecimento; prática
investigativa que deve partir da reflexão sobre a própria prática docente. A autora constrói seus argumentos em prol de
uma organização curricular que considere a participação de todos os atores
imbricados no processo formativo, enfatizando que a integração curricular só
pode acontecer quando se considera as diferentes malhas dessa rede complexa e
instigadora que compõem os sistemas educativos em suas diferentes esferas.
No terceiro capítulo
discute-se a educação básica no atual cenário educacional que, segundo o
entendimento apresentado há um campo fértil para compreendermos a formação de
professores, com destaque a concepção freireana. Para tanto, a autora salienta
a experiência pedagógica de quatro professoras do Distrito Federal, tendo como
subsídio de compreensão o portfólio. Destaca
ainda a importância de perceber o contexto ímpar de cada atuação, enfatiza que
a prática do professor deve ser revestida de intencionalidade para que o mesmo
possa compreender seus percalços e potencialidades, bem como distinguir e
caracterizar os diferentes níveis que envolvem a práxis. Neste cenário, aborda
o paradoxo entre as diferentes práticas educativas, além da necessidade da
formação técnico-científica do educador para compreender os lances de um saber
consciente que contribua para o desenvolvimento de uma prática pedagógica que
rompa com a seleção e a exclusão.
O quarto capítulo traz para
o foco da discussão os avanços e tensões que envolvem a coordenação pedagógica
no âmbito da educação continuada de professores, com ênfase em uma escola da rede
pública de ensino do Distrito Federal, espaço de pesquisa de mestrado da
autora. Vale trazer a descrição da autora quando destaca que a escola atual
preservou as características de sua origem e se estrutura muito mais como uma
escola seletiva do que como espaço inclusivo. Para esclarecer tal percepção destaca
três eixos principais de discussões: educação continuada, trabalho docente e
coordenação pedagógica. A partir daí, com base nas falas das suas
interlocutoras, a autora vai tecendo suas considerações sobre a necessária
articulação entre a teoria e a prática.
Nesse viés, enfatiza a necessária implementação coletiva do projeto
político pedagógico como referencial articulador da formação continuada
destacando a coordenação pedagógica na rede pública de ensino do Distrito
Federal, onde o espaço-tempo dessa atuação se constitui como pontos importantes
para o fortalecimento do coletivo e, consequentemente, para a organização do
trabalho pedagógico da escola e dos professores. A autora descreve o percurso de
atividade da coordenação pedagógica no cenário supracitado, enfatizando que a
ação compartilhada que envolve o trabalho coletivo e participativo deve ser
construído paulatinamente a partir das reflexões coletivas, compreendendo que nem sempre o olhar avaliativo do Estado
segue a mesma direção do olhar pedagógico dos profissionais envolvidos com a
educação, fator que aumenta o desafio desses profissionais na condução do
percurso que se quer construir no processo de ensino e de aprendizagens.
O quinto capítulo apresenta
a discussão sobre a formação continuada, com base em uma experiência vivenciada
nos anos iniciais do ensino fundamental de nove anos. Segundo a autora, os
profissionais da educação buscam referenciais que favoreçam a reflexão crítica
do trabalho que realizam, esse fator desafia os organizadores de formação
continuada, que priorizam desmistificar o imaginário, instituído
historicamente, da distribuição de receitas, métodos e técnicas de ensino.
Nesse intuito, a autora destaca o protagonismo de professoras formadoras ao
organizar um programa de educação continuada para os professores
alfabetizadores no Distrito Federal. Contexto no qual salienta o percurso
histórico da alfabetização, as leis que regem o processo e a criação de um
Centro de Referência da Alfabetização/CRA que realiza a formação continuada.
É no contexto
supramencionado que se desenvolve a pesquisa descrita pela autora visando
compreender a articulação do trabalho pedagógico, especialmente no que tange ao
diálogo com os alfabetizadores. A partir das descrições é possível observar o
papel e a função específica de cada um no desenvolvimento das atividades
pedagógicas, fator que contribui para o resultado satisfatório da ação do
coletivo. O trabalho realizado pelas equipes do CRA priorizou a organização do
trabalho docente dos professores alfabetizadores, instituindo uma avaliação
processual e um acompanhamento do trabalho docente, por meio do atendimento
direto às escolas que visavam discutir os problemas reais e articular coletivamente
os meios de intervenção, com palestras e oficinas que buscavam romper com o
imaginário social da apropriação de receitas e técnicas de ensino para a
construção de uma reflexão crítica que abarca dimensões individuais e
coletivas. Estes espaços só podem ser configurados por ações bem orientadas,
organizadas e partilhadas, de uma maneira coletivamente estruturada.
A obra resenhada apresenta
pontos cruciais para o repensar a formação de educadores no âmbito do fazer
pedagógico, com destaque a relação teoria-prática, a fim de que coletivamente
se possam construir projetos que rompam com o tecnicismo e/ou reprodução de
programas e projetos institucionais para a autoria de educadores que vivenciam
a prática em sala de aula. Neste sentido, António Nóvoa (2013), coaduna com as
autoras ao destacar que para o desenvolvimento de uma nova formação de
professores é preciso considerar três bases fundamentais: uma formação de dentro, a valorização do trabalho docente e pela criação de uma nova realidade
organizacional. Nesta vertente, o autor destaca que a formação de
professores deve considerar as reflexões pautadas no processo formativo que se
realiza no espaço de desenvolvimento profissional. Ainda no viés apresentado,
Marilda da Silva (2009, p. 36) também destaca que, “os professores aprendem
muito compartilhando sua profissão, seus problemas, no contexto do trabalho. É
no exercício de trabalho que, de fato, o professor produz sua
profissionalidade”. Portanto, cabe, a nós educadores, retirar da formação a
rigidez dos conteúdos programáticos, incluindo momentos para as liberdades que
colorem o estar junto, trazendo nova dinâmica ao trabalho coletivo, pautados
nos saberes das experiências.
Inscrever-se na história,
conforme nos diz Paulo Freire (1996) é aprender a interpretar o mundo com todas
as suas cores, saberes e sabores, valorizando o conhecimento e a cultura do
outro, imprimindo magia ao movimento das diversidades que fortalecem nossa
própria concepção do mundo vivido e do sonhado, compreendendo que a educação é
um ato político-pedagógico que se efetiva nas vivências e nos delírios dos
seres humanos. Essa aprendizagem nos
possibilita denunciar a educação pautada na docilidade e na submissão,
engendrando outra concepção educativa que se matiza na busca constante por liberdade
e emancipação. Importante perceber nesse contexto que para construir a
trajetória delineada com autoria é necessária a ruptura ao sistema vigente, de
modo a produzir estratégias teórico-metodológicas que dê conta de ressignificar
o currículo, não apenas no espaço formativo, do debate e das reflexões, mais
especialmente, no espaço da sala de aula.
O espaço formativo de
educadores deve ter como mote pedagógico o prazer por aprendizagens coletivas,
pois é o momento de teorizar a prática educativa com saberes diferenciados que
devem se completar na legitimidade da produção escrita de autores que realizam
reflexão sobre o campo educacional, não apenas para ‘engrossar’ as teorias
educacionais, mas para dar subsídio à prática em sala de aula. Trata-se da espiral
educativa que necessita se movimentar em várias direções para fortalecer os
aprendizados tanto do educador quanto do educando. Momentos em que se precisam
exercer as liberdades para construir juntos outras possibilidades
metodológicas, contemplando as subjetividades humanas. No entanto, é um caminho
árduo a ser construído, haja vista que a formação da maioria dos educadores foi
pautada no individualismo exacerbado que os impossibilitam de aprender com o
outro. Como salienta Martha Tristão (2004), está aí, na falta de relação
interpessoal, o grande impasse para se trabalhar com equipes de diálogos dentro
das instituições escolares, esse é, portanto, o entrave para se pensar em
projetos inter ou transdisciplinares.
A leitura do livro - A escola mudou. Que mude a formação de
professores! – nos dá subsídio para relatar que se
trata de uma obra relevante aos educadores em geral que visam discutir a
formação de professores e articular meios de reflexões sobre o próprio processo
formativo. Neste ínterim, a referida produção apresenta discussões centradas em
três eixos que envolvem a formação docente como um campo aberto às
possibilidades, as questões curriculares com seus paradoxos e probabilidades de
rupturas ao sistema vigente e as práticas formativas de educadores das escolas
públicas, buscando compreender na e com as experiências e com os processos
originais, o percurso da educação básica e a importância de protagonismos nos
cenários complexos e desafiadores da educação básica. No entanto, são desafios
que de acordo com as pesquisadoras podem ser superados por educadores
comprometidos e capazes de rever suas ações, concepções, organizações e
avaliações em busca de construir coletivamente novos percursos educativos, com
a convicção e a esperança de que é possível uma educação pública com qualidade
social.
A resenha em pauta foi
produzida por Maria Elizabete Nascimento de Oliveira, licenciada em Letras pela
Universidade do Estado de Mato Grosso/UNEMAT, pós-graduada também pela UNEMAT
em Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas. Mestre em Educação pela
Universidade Federal de Mato Grosso e, atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários pela UNEMAT. Autora do
livro: Educação Ambiental e Manoel de Barros: Diálogos poéticos, publicado pela
Editora Paulinas, São Paulo: 2012.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
VEIGA,
I. P. A & SILVA, E. F. (orgs.). A
escola mudou. Que mude a formação de professores! 3 ed. Campinas, SP:
Papirus, 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1996.
NÓVOA, António. Três bases para um novo modelo de formação. IN: Revista Nova
Escola, Agosto/setembro-2013, p.52-55,
GESTÃOESCOLAR.ORG.BR
TRISTÃO, Martha. A educação ambiental na formação de professores: rede de saberes.
São Paulo: Annablume, 2004.
SILVA, Marilda da. Complexidade da formação de professores: saberes teóricos e saberes
práticos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.
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