LIMA,
Elvira Souza. Ciclos de formação: uma
reorganização do tempo escolar. São Paulo: S107, 2002. (col. Fundamentos para a
educação).
Maria Elizabete Nascimento de Oliveira[1]
O livro – Ciclos de
formação: uma reorganização do tempo escolar da autora Elvira Souza Lima,
apresenta uma discussão interessante a respeito da ressignificação temporal da
escola organizada em ciclos, política educacional existente, inclusive, em
países latino-americanos, como Estados Unidos e; países europeus, caso de:
Portugal, Espanha e França. Aborda ainda que, a preocupação com as formas de
organização do tempo escolar, decorre dentre outras coisas, dos estudos de
outras áreas sobre o desenvolvimento
humano e sua inserção no contexto sociocultural.
Segundo Elvira,
necessário compreender que a organização da temporalidade fixa no âmbito
pedagógico existe, não concepção dos educadores, pais e alunos, como também em
documentos oficiais; além do material didático que, muitas vezes, se organizam
de modo aprisionar o conhecimento. A herança desta organização de ensino é
advindo do modelo europeu, exclusivamente do francês. A diversidade sociocultural
vem exigindo alteração na temporalidade e na organização do fazer pedagógico, a
fim de se adequar às necessidades e especificidades presentes no contexto
escolar.
A autora exemplifica
que, a mudança do tempo rígido para um tempo flexível permite ao educador
utilizar de suas horas de trabalho de acordo com suas necessidades. Assim,
faz-se urgente compreender a escola como espaço de formação, não apenas de
aprendizagem, valorizando o desenvolvimento global do ser humano, portanto, não
se trata de algo inventado para acabar
com a repetência e/ou com o fracasso escolar, mas de atribuir o tempo adequado
a todos para a sua formação, o qual diferencia de um indivíduo a outro.
O ano cronológico e o
ciclo de formação são apresentados de formas diferentes pela autora, enquanto o
primeiro é um produto cultural, datado; o outro é de ordem biológica cultural.
Neste sentido, a autora defende a concepção de um estudioso denominado Henri
Wallon, ao abordar que a educação deve estar a serviço do ser humano e não
servir aos interesses particulares. Além disso, relata com propriedade os
princípios gerais desta perspectiva de aprendizagens, declarando que, quando
surge a proposta de ciclos, esta se sustenta na ressignificação do processo de
aprender, onde o currículo deve se pautar em um projeto de formação que
contemple as diversidades, no qual os conteúdos sejam trabalhados como
elementos mediadores do desenvolvimento humano. A proposta de ciclo de formação
humana se ancora na teoria cultural-histórica do desenvolvimento humano que,
considerando as proposições da autora supracitada, envolve várias funções
psicológicas, conhecidas por Lev S. Vygotsk, como: memória, atenção volitiva, a
percepção, a imaginação e o pensamento.
Ainda de acordo com
Elvira, o estudo do conjunto das neurociências nos ajudam a compreender vários
pontos do processo do ato de aprender e que a escola, neste viés, deve
viabilizar a socialização de informações e intrumentos culturais, atendendo as
pecualiaridades do desenvolvimento biológico e cultural do ser humano, ou seja,
trata-se de abordar o conhecimento formal, promovendo o seu desenvolvimento
cultural. Nesta conjectura, a implantação de ciclos de aprendizagens permeia por
várias dimensões, dentre elas: a gestão, o currículo, a avaliação, a
continuidade educativa, o trabalho em equipe e a formação do educador, estas
estritamente relacionadas entre si.
No que tange à gestão,
aborda a necessidade do diretor se ver como educador, ou seja, a urgência deste
rever sua função, que deve ultrapassar do meramente administrativo para a
dimensão pedagógica. Ou seja, a gerência das unidades de ensino precisa estar a
serviço da ação educativa. Nesta proposição, também deve se pautar a práxis do
educador, esta deve deixar de servir apenas a estrutura da instituição, mas
conduzi-lo ao seu processo de formação, com iniciativa e tomada de decisão que
contribuam para o fortalecimento da sua identidade profissional docente.
Ao abordar o currículo,
a autora esclarece que antes de sua definição é preciso compreender a concepção
do ser humano em desenvolvimento, para, desta forma, entender o objetivo de sua
ação pedagógica. Neste foco, esclarece ainda que, todo currículo implica uma
opção, uma definição do que seria o processo de humanização pautado na
concepção do educador. O currículo visto
pela ótica da formação humana não pode estar fragmentado em disciplinas, em
hierarquias ou no controle das
instituições, mas precisa estar situado historicamente, servindo ao
desenvolvimento humano. Nesta proposição o currículo é politicamente situado, no
qual as novas áreas do conhecimento vão se formando no desdobramento de outras
áreas, ou são criadas como resultados de novas práticas culturais, ou ainda
pela complexidade crescente do conhecimento e da tecnologia.
No que se refere a
complexidade do ato avaliativo, Elvira discorre que, por muito tempo, este foi
visto como a memória de tempo curto que se diluia em testes e provas
aritméticas. Assim, a avaliação é, segundo a autora, o primeiro eixo a ser
alterado na implantação do ciclo, o que significa romper com a avaliação vista
como progressão ou retenção para uma dimensão formadora do desenvolvimento
humano. Neste foco, a avaliação é vista como processo, sendo diferenciada para
cada ser humano, onde se observa os avanços e recuos como possibilidades de
intervenção.
Quanto a continuidade
educativa permitida pelo ciclo de formação humana, a autora aborda que, esta
rompe com a concepção de término de aprendizagem ao final do ano letivo. Ou
seja, enquanto na seriação há uma necessidade de cumprimento de prazos,
cronogramas e/ou normas estabelecidas pelas instituições, no ciclo
privilegia-se a flexibilização na alocação do tempo no cotidiano do aluno, que
dialoga com as aprendizagens e saberes múltiplos, considerando o tempo
necessário de cada ser humano para a sua aprendizagem.
No que tange à formação
de coletivos, Elvira enfatiza a necessidade de um trabalho em equipe que fortaleça
a responsabilidade pela formação do educador, pois esta passa a ser uma
preocupação coletiva e o processo avaliativo implica nesta colaboração. Assim,
a definição das ações pedagógicas a serem desenvolvidas devem ser, no mínimo,
de responsabilidade dos educadores que
atuam no ciclo. Desta forma, necessário refletir sobre a concepção do ser
educador, bem como, sobre a sua postura diante das mudanças significativas que
transpõem a cultura do isolamento para uma atitude coletiva; cultura do
comprometimento, da responsabilidade e do cuidado com o outro.
Quanto à formação do
educador, este é visto também como ser humano em desenvolvimento e não como
detentor do saber, a autora apresenta uma nova organização de formação
continuada, em uma compreensão de mediador que promova o desenvolvimento humano
por meio da aprendizagem, que se faça partícipe do processo da constituição de
identidades. Discorre ainda que, em uma formação efetiva, o educador acaba por
estabelecer uma relação diferente com o conhecimento e que, liberado da pressão
do tempo cronológico, acaba por assumir o seu papel pedagógico de mediador da
formação humana.
Enfim, embora trata-se
de uma produção condensada, a autora apresenta pontos importantes à reflexão
sobre o ciclo de formação humana e, finaliza suas arguições, reforçando com
propriedade que, o ciclo não foi pensado
como solução para o fracasso educativo, como muitos educadores pensam, trata-se
de uma proposta de reformulação necessária à organização escolar, no sentido de
permitir a inclusão de todos os seres humanos no campo educacional.
[1]Coordenadora de Formação
Continuada – CEFAPRO/Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica –
Cáceres/Mato Grosso. Endereço eletrônico:
m.elizabte@gmail.com
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